sexta-feira, 19 abril 2024

Bolsonaro ataca repórter com insinuação sexual e entidades repudiam fala

O presidente Jair Bolsonaro atacou nesta terça-feira (18), com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.

A declaração foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI das Fake News no Congresso.

O depoimento à comissão foi de Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, durante a campanha eleitoral de 2018.

Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha de S.Paulo, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Já na CPMI, diante de deputados e senadores, Hans também fez acusasões contra Patrícia, uma das autoras de reportagem sobre o uso fraudulento de nomes e CPFs para permitir o disparo de mensagens.

Sem apresentar provas, Hans afirmou que Patrícia queria “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”, declaração reproduzida em seguida pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, em suas redes sociais.

Ontem, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro falou sobre o caso.
“Olha a jornalista da Folha de S.Paulo. Tem mais um vídeo dela aí. Não vou falar aqui porque tem senhoras aqui do lado. Ela falando: ‘Eu sou (…) do PT’, certo? O depoimento do Hans River, foi final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele”, diz o presidente, para em seguida, aos risos, fazer o ataque com insinuação sexual contra a jornalista.

“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]. Lá em 2018 ele [Hans] já dizia que ele chegava e ia perguntando: ‘O Bolsonaro pagou pra você divulgar pelo Whatsapp informações?’ E outra, se você fez fake news contra o PT, menos com menos dá mais na matemática. Se eu for mentir contra o PT, eu tô falando bem, porque o PT só fez besteira”, afirmou. “Tem um povo aqui [em referência a um grupo de simpatizantes], alguém recebeu no zap uma matéria qualquer que suspeitou pra prejudicar o PT e me beneficiar? Ninguém recebeu nada. Não tem materialidade, zero, zero zero. Você não precisa mentir pra falar sobre o PT, os caras arrebentaram com Petrobras, fundo de pensões, BNDES…”, completou o presidente.

A Folha de S.Paulo divulgou a seguinte nota: “O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”.

ENTIDADES REPUDIAM DECLARAÇÃO

Entidades de jornalismo repudiaram e classificam como um ataque aos jornalistas e à democracia a fala do presidente Jair Bolsonaro, com insinuação sexual, contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo.
Para a ANJ (Associação Nacional de Jornais), a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a fala desrespeita a imprensa e o seu trabalho essencial na democracia.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) chamou a agressão de “covarde” e pediu à PGR (Procuradoria-Geral da República) que denuncie a quebra de decoro de Bolsonaro.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o insulto configura uma “clara tentativa de intimidação” e demonstração de “mau-caratismo institucional”.

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