sábado, 23 novembro 2024

Estoquista é preso após pedir à polícia para socorrer prima baleada no RJ

Tiago Marques de Oliveira foi preso acusado de trocar tiros com policiais militares 

Tiago Marques de Oliveira pediu socorro para a PM e acabou preso – Arquivo pessoal

Tiago Marques de Oliveira, 28, foi preso no último sábado (31) acusado de trocar tiros com policiais militares no morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio. Durante a operação policial, ele foi ferido por estilhaços no ombro e tentou socorrer uma prima, de 14 anos, baleada na perna.

Estoquista, Tiago é morador de Madureira, bairro que fica a 14 km da Tijuca. Segundo familiares, ele estava na comunidade na companhia do pai para pegar uma cesta básica e ficou no bar da família conversando com parentes, quando foi surpreendido pelo tiroteio, que começou por volta das 17 horas.

“Meu primo foi levado para o hospital no banco de trás da viatura da PM, sem algemas. Depois de receber atendimento, ele foi algemado para prestar esclarecimentos e chegando lá [na delegacia] que os PMs falaram que ele estava sendo preso por trocar tiros com eles. Ele ficou desesperado. Disse: ‘Não faz isso comigo! Meu sonho é ser policial civil”, conta Leonardo de Oliveira Leite, primo de Tiago.

Policiais atirando

De acordo com Leonardo, o primo não aparecia na favela há quase dois anos. Durante a operação policial, os policiais estavam atirando de cima de um muro, enquanto Tiago começou a gritar e botar todo mundo para dentro do bar. “Mesmo sangrando, ele chegou a tirar o casaco e botar na perna da minha sobrinha que estava ferida. Os policiais só viram o Tiago no chão”, relembra.

A garota foi atingida na perna, passou por cirurgia no Hospital Municipal Salgado Filho, e segue estável. Durante a operação policial, ela foi pega no colo pelos familiares, que a colocaram em uma viatura. “Ela estava muito quieta. Peguei ela, virei e ela disse: ‘tio, tô bem!’ Estava com um buraco na perna”, conta Leonardo.

Defesa

Tiago trabalha como estoquista há dois anos em uma escola particular na Barra da Tijuca, tem um filho de quatro anos, possui residência fixa e não possui antecedentes criminais. Na segunda-feira (2), o Tribunal de Justiça do Rio decidiu, em audiência de custódia, mantê-lo preso.

O advogado de defesa Carlos Alberto Barbosa avalia que houve irregularidades na sua prisão, já que a delegacia não solicitou exames residuográficos – que detectam pólvora nas mãos do cliente -, o que poderia mostrar que ele não atirou contra os policiais.

“Estou entrando com habeas corpus. Trata-se de uma vítima que está sendo transformada em criminosa. Depois, vou pedir também uma reconstituição do crime. O Tiago estava em um bar com 30 testemunhas. No bar não tinha bandidos. Na delegacia, não me apresentaram nenhuma arma apreendida”, ponderou o advogado.

Procurada, a Polícia Civil não explicou o motivo de não ter solicitado o exame residuográfico para Tiago. “O homem foi preso em flagrante após ser conduzido por policiais militares à 19ª DP (Tijuca). Segundo relatado pelos PMs, ele teria participado do confronto. A unidade policial instaurou inquérito e o caso foi remetido para a Justiça”, disse a instituição, por meio de nota.

Já a Polícia Militar informou que no último sábado (31), policiais militares da UPP Salgueiro foram atacados a tiros por criminosos durante um patrulhamento. Houve revide e, após o fim do confronto, três homens armados foram encontrados feridos caídos no chão.

Em nota, informou que todos foram socorridos para o Hospital Federal do Andaraí. Um deles, conhecido como Belo, gerente do tráfico local, não resistiu aos ferimentos e morreu. A PM também informou que foram apreendidos um fuzil, duas pistolas e quatro carregadores, além de farto material entorpecente.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil e, no âmbito da Corporação, em Inquérito Policial Militar. Ambas as investigações devem ser acompanhadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

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