terça-feira, 23 abril 2024

Ex-mulher de Bolsonaro prestará depoimento na CPI da Covid

Ana Cristina Siqueira Valle terá de explicar relação com suposto lobista da Precisa Medicamentos

Troca de mensagens obtidas pela CPI da Covid-19 mostra relação de Ana Cristina Valle com suposto lobista – Reprodução/redes sociais

A CPI da Covid aprovou nesta quarta-feira a convocação de Ana Cristina Valle, uma das ex-mulheres do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para que preste depoimento sobre indícios de relação dela com o suposto lobista Marconny Albernaz de Faria, que teria atuado a favor da Precisa Medicamentos para compra da vacina indiana Covaxin.

Marconny é ouvido em oitiva hoje pelos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ele negou ter negócios com Ana Cristina e disse conhecê-la por meio de Jair Renan, filho dela com Bolsonaro. No entanto, os parlamentares afirmam ter em mãos troca de mensagens que apontam suposta atuação dela a pedido de Marconny.

“Mensagens eletrônicas extraídas de aparelho celular, em posse desta Comissão Parlamentar de Inquérito, indicam que, a pedido do lobista Marconny Faria, a senhora Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do atual presidente da República, entrou em contato com o Palácio do Planalto para exercer influência no processo de escolha do Defensor Público-Geral Federal junto ao então ministro da Secretaria Geral da Presidência e atual ministro do TCU, Jorge Oliveira”, diz trecho do requerimento de convocação de Ana Cristina, apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O senador afirma que as mensagens fazem parte de material sob sigilo enviado pelo Ministério Público Federal no Pará obtido em investigação sobre o desvio de recursos públicos em órgão ligado à pasta da Saúde. Questionado se Ana Cristina interveio em favor dele para mudanças ou indicações de cargos no governo federal, Marconny optou por ficar em silêncio sobre o assunto, amparado em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Para Alessandro Vieira, a “relação próxima [de Marconny] com a ex-esposa do senhor Jair Bolsonaro deve ser amplamente esclarecida, com vistas a examinar potencial atuação ilícita de ambos no contexto da pandemia”.

Inicialmente, não havia previsão de que o requerimento de convocação de Ana Cristina fosse votado hoje. Porém, ao longo do depoimento de Marconny, o assunto voltou à tona e parte dos senadores aceitou pautá-lo, sob protesto do governista Marcos Rogério (DEM-RO).

Segundo o depoente, ele conheceu Ana Cristina por meio do filho dela e de Bolsonaro, Jair Renan. “O Jair [Renan], como já tinha falado, eu conheci por amigos em comum, logo que ele chegou a Brasília [há cerca de dois anos]”, disse Marconny. O suposto lobista afirmou que ajudou Jair Renan a “criar uma empresa de influencer” e o apresentou a um colega tributarista que poderia auxiliá-lo.


Com salário de R$ 8 mil por mês, Ana Cristina Valle e Jair Renan Bolsonaro moram em mansão em Brasília – Reprodução

Marconny ainda confirmou ter comparecido ao aniversário de Jair Renan em um camarote em Brasília, durante a pandemia. A comemoração ocorreu no Estádio Nacional Mané Garrincha.

Lobista da Precisa

Marconny Faria é tido por senadores da CPI como lobista da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou negociação da compra da vacina indiana Covaxin com o Ministério da Saúde. Após denúncias de uma série de supostas irregularidades, o contrato acabou cancelado pelo governo federal.

Mensagens em posse da CPI também apontam que Marconny supostamente teria participação em eventual esquema de corrupção para favorecer a Precisa Medicamentos em processo de compra de testes de detecção de covid-19 pelo Ministério da Saúde, com citações a uma pessoa indicada como “Bob”, quem os senadores acreditam se tratar de Roberto Dias, ex-diretor de logística da pasta.

Ana Cristina trabalha com deputada e vive em mansão

Atualmente, Ana Cristina Siqueira Valle trabalha no gabinete da deputada federal Celina Leão (PP-DF), com salário bruto de R$ 8.116,08 mais auxílio de quase R$ 1 mil.

O ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e ex-funcionário de Ana Cristina, Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, contou que no período em que foi funcionário do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) era obrigado a devolver mensalmente 80% de seu salário — mecanismo conhecido como rachadinha.

De acordo com Nogueira, ele precisava entregar esses valores em dinheiro vivo nas mãos de Ana Cristina. Isso ocorreu todos os meses ao longo de mais de quatro anos, disse.

Atualmente, Ana Cristina e Jair Renan moram em uma mansão de R$ 3,2 milhões no Lago Sul, área nobre de Brasília. De acordo com Nogueira, o imóvel foi comprado por Ana Cristina, que se utilizou de laranjas para ocultar a aquisição.

O senador Alessandro Vieira declarou hoje que, em princípio, ambos não têm renda compatível para morarem em um local assim.

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