sábado, 27 abril 2024

PF faz operação contra Serra por suspeita de caixa 2 e prende empresário

A PF (Polícia Federal) deflagrou, na manhã desta terça-feira (21), uma operação ligada a suspeita de caixa dois na campanha do senador José Serra (PSDB) nas eleições de 2014 e prendeu José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, do setor de planos de saúde. 

A operação também incluía cumprimento de mandado de busca e apreensão no gabinete de Serra em Brasília, mas a diligência foi barrada pelo Senado e depois suspensa pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli. 

Serra, que nega as acusações é suspeito de estar no topo político de um esquema criminoso de doações via caixa dois que teria beneficiado sua campanha com cerca de R$ 7 milhões em 2014. 

O polo financeiro do esquema que envolveu cinco empresas, segundo a PF, foi coordenado pelo fundador da Qualicorp, conhecido como Júnior. “No topo da cadeia criminosa tem o acionista controlador e, no topo do político, temos o então candidato”, disse o delegado Milton Fornazari Júnior, responsável pela operação batizada de “Paralelo 23”. 

MILHÕES 

De acordo com a investigação, o empresário repassou R$ 5 milhões a três empresas que teriam sido indicadas por Serra. As transações financeiras foram simuladas por meio da emissão de notas frias de serviços de gráfica e publicidade, por exemplo, que não foram prestados. 

Os investigadores devem trabalhar agora para descobrir se houve contrapartida por parte de Serra e a razão pela qual não houve registro das doações de campanha junto à Justiça Eleitoral. 

Uma das empresas que contribuiu com a campanha do tucano por meio do esquema foi a JHSF Participações S.A, que teria dissimulado doações por meio de um contrato de compra de ingressos para o Grande Prêmio Brasil de Formula 1, segundo a PF, que aponta a existência de indícios robustos de irregularidades na ação. A mesma empresa é investigada por simulação de doação no pleito de 2010. 

Num comunicado aos acionistas, a JHSF informou que atendeu prontamente as solicitações endereçadas a ela. 

Foram cumpridos quatro mandados de prisão temporária e 15 de busca e apreensão. Além da Capital paulista e de Brasília, houve ações em Itatiba e Itu (SP). Um dos empresários não foi localizado. 

A Justiça Eleitoral também determinou bloqueio judicial de contas bancárias dos investigados. 

Além de Seripieri, foram presos outros dois empresários suspeitos de integrar o esquema. Os agentes buscavam nesta terça um quarto participante da ação criminosa, ainda não localizado. 

O Ministério Público diz que houve a “colaboração espontânea de pessoas que teriam sido contratadas no ano de 2014 para estruturar e operacionalizar os pagamentos de doações eleitorais não contabilizadas, efetuados supostamente a mando de acionista controlador de importante grupo empresarial do ramo da comercialização de planos de saúde”. 

Além do esquema coordenado pelo empresário da Qualicorp, a PF apontou a existência de outros pagamentos relacionados a outras grandes empresas, uma delas do setor de alimentos e outra do ramo da construção civil, que juntas teriam feito pagamentos na soma de quase R$ 2 milhões à campanha de Serra ao Senado. 

Os investigados devem responder pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro, com penas de 3 a 10 anos de prisão. 

O inquérito policial foi remetido à primeira instância da Justiça Eleitoral de São Paulo pelo STF ainda em 2019. 

A Promotoria diz que, como Serra exerce mandato no Senado, as investigações em primeira instância se restringem, em relação a ele, aos fatos apurados no ano de 2014. 

O advogado Celso Vilardi, que defende o empresário José Seripieri, informou que irá se manifestar assim que tiver acesso aos autos. 

ALCOLUMBRE PEDE E TOFFOLI VETA BUSCA NO GABINETE DE SERRA 

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, suspendeu nesta terça-feira (21) a decisão da Justiça Eleitoral de São Paulo que previa busca e apreensão no gabinete do senador José Serra (PSDB), no Senado. Toffoli atendeu a pedido do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). 

Antes da decisão no STF, agentes federais tentaram cumprir a diligência nas dependências do Senado, mas foram impedidos por policiais legislativos a mando de Alcolumbre. Em seguida, o presidente do Senado recorreu ao STF para suspender a diligência. 

O mandado não foi cumprido sob a alegação de ter sido expedido pela primeira instância da Justiça, onde corre a investigação contra o senador. 

O entendimento da Mesa do Senado, comandada por Alcolumbre, é que o mandado autorizado pela primeira instância da Justiça usurparia a competência do STF (Supremo Tribunal Federal). 

A Advocacia do Senado enviou uma reclamação ao STF sobre o caso e decidiu consultá-la sobre o prosseguimento do mandado. 

Por se tratar de um gabinete de um parlamentar, argumenta, apenas o STF poderia autorizar uma busca. 

TUCANO NEGA E CHAMA OPERAÇÃO DE ‘ESPETACULARIZAÇÃO’ 

A assessoria de imprensa do senador José Serra (PSDB) afirmou, em nota, que ele “jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos”. 

Diz ainda que todas as suas contas de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. 

SERRA | Diz que “jamais recebeu vantagens indevidas”
(Foto: Valter Campanato | Agência Brasil)

O senador diz que foi surpreendido com nova operação, sendo que dois de seus endereços “já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela PF”. Serra diz que “lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país”, mas que tem confiança no poder judiciário e “espera que esse caso seja esclarecido da melhor forma possível”. 

PSDB DEFENDE 

O PSDB de São Paulo divulgou nota reiterando a sua confiança no senador José Serra, “pautada nos mais de 40 anos de uma vida pública conduzida de forma proba e correta”. O presidente do diretório de São Paulo partido, Marco Vinholi, afirma ter “confiança no poder judiciário e no esclarecimento dos fatos”. 

SENADOR FOI ALVO DE OUTRA AÇÃO, POR LAVAGEM, NO INÍCIO DO MÊS 

No começo do mês, o Ministério Público Federal em São Paulo denunciou Serra sob acusação de lavagem de dinheiro transnacional. A filha do tucano, Verônica, também foi denunciada pela equipe da Lava Jato de São Paulo. 

Segundo a Procuradoria, também foi autorizado o bloqueio de cerca de R$ 40 milhões em uma conta na Suíça, embora não seja esclarecida qual é essa conta. De acordo com a força-tarefa, a informação está sob sigilo. 

Na ocasião, com autorização da Justiça Federal, oito mandados de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Alguns dos imóveis alvos da operação tinham ligação com o senador, inclusive a sua residência. A operação foi batizada de Revoada. 

Na ocasião, a defesa de Serra disse por meio de nota que houve “busca e apreensão com base em fatos antigos e prescritos e após denúncia já feita, o que comprova falta de urgência e de lastro probatório da acusação”.  

Por Géssica Brandino e Fabiana Schiavon

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