segunda-feira, 6 maio 2024

Reverendo chora e admite culpa: ‘Queria vacinas para o Brasil’

Amilton Gomes de Paula, líder da Senah, presta depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (3)  

Reverendo Amilton de Paula chora durante depoimento à CPI da Covid – Jefferson Rudy/Agência Senado

Líder da entidade privada Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), o reverendo Amilton Gomes de Paula foi às lágrimas hoje, durante a CPI da Covid, e se disse culpado por “ter estado nessa alteração das vacinas”.

Ele também afirmou que queria “vacinas para o Brasil” após a morte de um conhecido em decorrência da covid-19. O reverendo é apontado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti como intermediador de uma oferta supostamente superfaturada de 400 milhões de doses de vacinas de Oxford/AstraZeneca ao Ministério da Saúde.

O religioso se emocionou após o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) o questionar sobre o seu papel na suposta oferta de vacinas da AstraZeneca. Antes, o senador afirmou que o depoimento de Amilton era “uma perda de tempo”, porque a CPI estava investigando algo que não aconteceu.

Depois, Marcos Rogério disse ter dúvidas se o reverendo faria parte de uma “tríade de golpistas” ou se realmente foi enganado, como o depoente alega.

“Eu dou meu sapato para pessoas carentes que chegam na minha igreja, vendi meu carro, tudo o que eu tinha, para dar pra igreja. Quem me conhece, sabe. Esse erro que eu cometi foi um erro que, se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria”, disse o reverendo.

Arrependimento

O presidente da CPI e senador Omar Aziz (PSD-AM) chegou a perguntar ao reverendo: “Chorou e se arrependeu do quê?”. Segundo Amilton, ele se arrepende de “ter estado nessa alteração das vacinas”.

O reverendo Amilton Gomes de Paula, depoente de hoje na CPI da Covid, irritou senadores do colegiado ao fornecer respostas imprecisas e com contradições.

Em um dos breves momentos de maior clareza de raciocínio, a testemunha confirmou ter atuado como um dos elos para que a Davati Medical Supply conseguisse ofertar ao Ministério da Saúde o suposto lote de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

Em 29 de junho, Dominghetti foi à imprensa para denunciar um suposto pedido de propina por parte de Roberto Dias, ex-diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde. Posteriormente, em depoimento ao colegiado, o policial ratificou a versão.

Apesar de reuniões no Ministério da Saúde, Amilton afirmou não conhecer “ninguém do governo” e não saber o motivo de tamanha celeridade por parte do governo para recebê-los. Ele teria tido uma reunião no ministério horas depois de mandar um e-mail com base apenas em buscas na internet, alegou.

Reverendo Amilton parece ter bom trânsito entre diversos políticos, como o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente – Reprodução/Redes sociais

Bom trânsito entre políticos

Segundo reportagem da Agência Pública, o reverendo parece ter bom trânsito no meio político de Brasília. Em suas redes sociais, ele tem fotos com o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Recentemente, o pastor apareceu na divulgação da “Conferência Nacional de Liderazgo” ao lado da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP).

O líder religioso também participou da criação da Frente Parlamentar Mista Internacional Humanitária pela Paz Mundial (FremhPaz) junto ao pastor Laurindo Shalom, da Associação Internacional Cristã Amigos Brasil-Israel, e do deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), em 17 de setembro de 2019.

Durante a explanação, o reverendo Amilton se mostrou confuso, gaguejou em alguns momentos e caiu em contradição em relação ao dia do e-mail enviado à pasta. Antes de esclarecer que o contato havia sido realizado em 22 de fevereiro, ele declarou que a mensagem eletrônica tinha sido enviada em 18 de fevereiro.

“Pressão de Dominghetti”

De acordo com Amilton, ele sofreu “pressão” de Dominghetti e do outro representante da Davati, Cristiano Carvalho, para conseguir as reuniões com o governo federal.

Dominghetti relatou ter tido reunião com Lauricio ao lado de representantes da Senah na primeira vez em que esteve no Ministério da Saúde.

Amilton teria feito o contato político para que, ao lado de Dominghetti, conseguissem o encontro com Lauricio, segundo o policial. Como vacinas não eram a área de Lauricio, este teria dito que encaminharia os vendedores ao então secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, responsável por essas aquisições, contou Dominghetti.

Reverendo diz que Senah foi usada

Hoje, Amilton negou qualquer encontro com o presidente da República ou com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e argumentou que a Senah foi usada “de maneira ardilosa”.

“Hoje, com a série de eventos divulgados, entendemos que fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios e que desconhecemos. Vimos um trabalho de mais de 22 anos de uma ONG, entidade séria, voltada para ações humanitárias, educacionais, jogado na lama, trazendo prejuízo na sua credibilidade e atingindo seus integrantes nas relações profissionais e familiares.”Reverendo Amilton

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou documentos que mostram uma comunicação do dono da Davati, Herman Cardenas, ofertando dose da AstraZeneca por US$ 10 ao Ministério da Saúde. No entanto, o reverendo Amilton teria apresentado uma oferta de dose a US$ 11. O US$ 1 adicional é o mesmo valor citado por Dominghetti como suposta propina pedida por Roberto Dias.

CPI da Pandemia aprovou requerimentos e ouviu depoimento de reverendo –
Marcos Oliveira/Agência Senado

Diz desconhecer documentos

Amilton afirmou aos senadores “desconhecer o documento de US$ 10, que não acompanha a oferta [feita ao Ministério da Saúde]”. Segundo ele, o documento que ofertava vacinas a US$ 10 não tem ligação com o email que cita o preço de US$ 11 por unidade.

Em cartas timbradas da Senah e assinadas por Amilton, a entidade costumava usar logotipos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e da ONU (Organização das Nações Unidas), entre outras instituições.

“Tem um documento aqui que o senhor diz: ‘Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, uma organização sem fins lucrativos e de apoio humanitário com atuação em mais de 190 países, reconhecida pela Organização das Nações Unidas e pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil'”, disse Randolfe.

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