Crime foi em Belford Roxo, no Rio; após o assassinato, o líder local foi morto como queima de arquivo
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski, afirmou nesta quinta-feira (9) que o tráfico de drogas da favela Castelar foi responsável pelo assassinato dos três meninos desaparecidos desde dezembro do ano passado em Belford Roxo (RJ). A declaração foi dada à Rádio Tupi, após oito meses de investigação.
Segundo Turnowski, a motivação das mortes foi o roubo de passarinhos que pertenciam a traficantes da localidade. Após o crime, de acordo com ele, o líder local foi chamado ao Complexo da Penha, onde foi assassinado, como queima de arquivo, por lideranças do Comando Vermelho.
Em entrevista à TV Globo, o secretário afirmou que o traficante pediu autorização para punir os meninos a líderes da facção criminosa, que estavam presos. A punição foi liberada, mas as lideranças não sabiam que os autores do furto dos passarinhos eram crianças.
Turnowski também afirmou que essa foi a principal linha de investigação desde o início, e que a conclusão está ancorada em depoimentos de testemunhas importantes, que deram detalhes sobre o que ocorreu no dia do crime. O inquérito sobre o caso ainda está sendo finalizado.
Segundo ele, a polícia concluiu que os corpos foram jogados em um rio. “Temos esperança de encontrar, mas não é tarefa fácil”, disse. Ao fim de julho, fragmentos de ossos foram encontrados pela Polícia Civil em um rio que corta a região. Poucos dias depois, porém, uma perícia apontou que a ossada era de origem animal.
Lucas Matheus da Silva, 9, Alexandre da Silva, 11, e Fernando Henrique Soares, 12, saíram de casa em 27 de dezembro do ano passado para brincar em um campo de futebol próximo, na comunidade de Castelar, mas não voltaram mais. Foram filmados pela última vez às 13h39 daquele dia, andando em direção à feira de Areia Branca, a aproximadamente 2,7 km.
As crianças foram reconhecidas nas imagens no início de março, após limpeza e análise feitas pelo Ministério Público estadual com um programa mais sofisticado. Os policiais já haviam colhido gravações de dezenas de câmeras, mas como a qualidade estava ruim não haviam identificado os meninos.
As famílias criticam a lentidão na resolução do caso e dizem que a polícia demorou a agir. “Naquele dia em que fomos na delegacia, se tivessem puxado as câmeras, ido atrás das crianças, tenho certeza de que teríamos tido uma resposta”, disse à Folha, em abril, Tatiana Ribeiro, mãe de Fernando.
As mães ouviram de agentes que só poderiam registrar o sumiço 24 horas depois, sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê buscas imediatas. “Eles demoraram e ainda está demorando, porque o caso do Henry [Borel, 4, espancado e morto em março] em menos de um mês teve resultado. Me sinto humilhada porque não tenho dinheiro, meu filho não é branco”, afirmou na ocasião.
A Baixada Fluminense tem um problema crônico de desaparecimentos, com cerca de 15 registros diários, segundo Bruno Dauaire, secretário estadual de Direitos Humanos. A taxa foi de 32 casos a cada 100 mil habitantes na região em 2020, contra 28 no estado todo. Para se ter uma ideia, o RJ registrou quase tantos sumiços (3.350) quanto homicídios dolosos (3.544) no ano passado, de acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública).