domingo, 5 maio 2024

Reintegração de posse acaba em confusão em Americana

A reintegração de posse de uma área pública em Americana ontem terminou em confusão entre a PM (Polícia Militar) e parte das pessoas que estavam no local. Enquanto a polícia afirma que sete pessoas atearam fogo em um canavial após deixarem a área pública e portarem drogas, representantes dos moradores negam o ato e ainda acusam a PM de revidar com violência, que incluiria tiros de bala de borracha. O caso ainda estava sendo registrado na delegacia até o fechamento desta edição.
O grupo ocupava há cerca de 15 dias uma área do antigo Sítio Jacutinga, que tem 120 mil metros quadrados. O local já havia sido invadido e loteado anos atrás, em 2016, e ficou conhecido como Residencial Capivara. Na época, a prefeitura conseguiu a reintegração de posse.
O atual grupo era formado por cerca de 60 pessoas, que montaram duas tendas no local, segundo informações da Gama (Guarda Municipal de Americana). Por volta das 8h de ontem, um oficial de Justiça foi até o local, acompanhado pela PM, para realizar a desocupação.
Segundo moradores ouvidos pela reportagem, ficou combinado que o grupo teria até as 12h para deixar o local, o que foi cumprido. O problema teria começado quando o grupo se deslocava pela Estrada da Servidão.
“Ficamos ali (na estrada). Daí chegou outro pelotão, outro capitão e exigiu que a gente saísse da estrada. Só que a gente não queria sair porque a estrada é pública e a gente não tinha para onde voltar. Tem o acampamento, mas gostaríamos de ficar ali por ser uma área de recuo, porque a gente esta dentro do assentamento Milton Santos e está prejudicando o assentamento. (…) Falaram que era para tirar todo mundo. Beleza, recolhemos as coisas e começamos a descer a avenida”, contou Flávia do Nascimento de Lima, uma das líderes da ocupação, que compareceu na sessão de ontem da Câmara junto com outros membros.
Quando o grupo voltou a se deslocar, foi ateado fogo em um canavial próximo à estrada. Os moradores afirmam que não tiveram nada a ver com o ocorrido. No entanto, a PM afirmou que integrantes do grupo começaram o incêndio.
Segundo Flávia, a PM teria abordado de forma violenta o grupo, inclusive com o disparo de balas de borracha. Membros da ocupação e até crianças teriam se machucado.
“A gente não tem esse intuito, não tem porque colocar fogo em nada. E eles (PM) vieram para cima da gente e brutalmente começaram a correr. Montaram nas viaturas e foram atrás da gente. Invadiram até o Milton Santos, que é uma área federal de assentamento, e começaram a atirar com tiros de borracha, gás lacrimogêneo. Machucaram as criança. Eu trouxe as provas”, afirmou a mulher.
Durante a confusão, integrantes do grupo gravaram vídeos. Em um deles, é possível ver fumaça saindo do canavial e uma viatura da PM abordando pessoas na beira da estrada. Dois policias descem do veículo, se aproximam do grupo e abordam de forma intensa um homem que aparenta ser idoso. Exatamente no momento em que ocorre o contato a câmera treme, não sendo possível constatar se houve alguma agressão. Ele é separado do restante do grupo, enquanto os policiais continuam a apontar armas para a multidão.
Segundo Flávia, quatro pessoas foram detidas e levadas à delegacia. Segundo a PM, foram sete. Até o fechamento desta edição, o caso ainda era registrado.

 

GRUPO PEDE APOIO NA CÂMARA
Cerca de 70 moradores do assentamento Roseli Nunes foram à sessão da Câmara pedir auxílio depois da reintegração e da detenção de membros do grupo. A vereadora Maria Giovana (PcdoB) acusou o prefeito Omar Najar (MDB) de não cumprir suas promessas e a PM (Polícia Militar) de “truculência”. Alguns dos desabrigados entraram no plenário para mostrar balas de borracha e bombas de efeito moral que disseram que recolheram do local, mas a interferência irritou o presidente da Casa, Alfredo Ondas (MDB) que chegou a suspender a sessão.
“Devemos pedir explicações. Que ação foi essa? Que tipo de organização foi essa? Foi muita truculenta com as nossas mulheres, com nossos homens, com as crianças. Teve até mulher grávida que teve que sair correndo”, acusou Maria Giovana.
A vereadora afirmou que o prefeito, em reunião,  havia prometido ajudar aquelas pessoas. “Ele sentou comigo e prometeu que ia ter intermediação. Que a Saúde e a Assistência Social ia intermediar. Mas hoje teve até bomba na cabeça de criança. Como é que a gente deixou isso acontecer? Ele prometeu e não cumpriu. O que aconteceu hoje foi um descaso”, declarou.
Já Luiz Carlos Cezaretto, o Luiz da Rodaben (PP) saiu em desefa do governo. “Vamos colocar os pingos is. A terra é do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). O prefeito deixou claro que se as pessoas resolvessem com o Incra ele entraria com a rede de esgoto e com a infraestrutura”.
Odir Demarchi (PR) tentou convencer Ondas a abrir espaço na tribuna para que os manifestantes expusessem. “Não dá Odir”, respondeu.
Em meio ao tumulto, ele decidiu suspender a sessão por alguns minutos. Depois, ela seguiu normalmente.
A assessoria de imprensa da prefeitura afirmou que o prefeito garantiu ajuda com infraestrutura se o grupo conseguisse resolver a posse da terra com o Incra. “Além disso, tinha equipe da Ação Social no momento da reintegração de posse para auxliar no que fosse preciso”, afirmou.

 
O OUTRO LADO

A PM divulgou uma nota para a imprensa, afirmando que a reintegração foi pacífica, porém “ao deixar o local, os invasores invadiram terreno de posse da Usina Ester que possui liminar proibindo qualquer invasão, comparecendo ao local representante dela solicitando a manutença de posse determinada judicialmente”.
A polícia disse que foi negociada a saída do grupo e que no momento em que isso iria ocorrer, “um grupo ateou fogo no canavial, o que ensejou providências da Polícia Militar para manutenção da ordem pública, preservando a integridade física de todos, e do patrimônio público e particular”.
A reportagem questionou o major da PM, Rogério Takiushi, que manteve a informação de que o grupo teria ateado fogo. “É a versão deles que não fizeram, e a versão nossa é que fizeram. (…) Sei que houve intervenção, mas não como foi. Está sendo apresentado no CPJ”, informou ontem à noite.
Em nota, a prefeitura de Americana afirmou que informações sobre a ação policial deveriam ser solicitadas com a PM. “A Secretaria da Ação Social participou com a presença do assistente social, Carlos Zanóbia. A Gama atuou no controle do trânsito, para o caso de haver invasão da Rodovia Ivo Macris, o que acabou não acontecendo. Após a saída das pessoas do local, a Gama ocupou a área e permanece lá para evitar o retorno do grupo”, traz a nota.

 
 
 
 

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