O protesto na capital pernambucana, ocorrido na manhã do sábado (29), foi encerrado com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha
A cúpula da segurança pública em Pernambuco estava no centro de monitoramento de câmeras da Secretaria de Defesa Social no momento em que policiais militares atacaram manifestação pacífica contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O protesto na capital pernambucana, ocorrido na manhã do sábado (29), foi encerrado com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha.
O Governo de Pernambuco comunicou que a operação não foi autorizada. Até o momento, porém, não explicou quem deu a ordem para o ataque.
Os policiais militares do Batalhão de Choque começaram a atirar às 11h44 contra os manifestantes que seguiam de maneira ordeira por uma avenida do centro do Recife.
Pouco tempo depois, vídeo publicado pela Secretaria de Defesa Social numa rede social mostra o titular da pasta, Antônio de Pádua, e o secretário-executivo, Humberto Freire, sentados na mesa de monitoramento do Centro Integrado de Comando e Controle Regional.
Neste local, é possível monitorar em tempo real todas as câmeras no estado. Há várias delas instaladas na área central da capital pernambucana.
O secretário acompanhava as fiscalizações policiais em decorrência das medidas restritivas mais rígidas em Pernambuco em razão da pandemia do novo coronavírus.
O centro do Recife é justamente um dos pontos mais importantes para checagem por ter um forte comércio de rua.
Quase uma hora depois do início da repressão policial no centro da capital, às 12h34, o secretário aparece ao vivo em uma emissora de televisão ao lado do telão de monitoramento apontando imagens na zona sul da capital e também na cidade de Olinda.
Neste momento, não aparecem câmeras da área central do Recife.
O secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, afirmou em entrevista a uma emissora de televisão na manhã desta segunda-feira (31) que o governo estava monitorando a manifestação desde o seu início.
“Primeiro, nós acompanhamos a operação desde a praça do Derby [concentração do ato]. Não houve alteração. Na ponte Duarte Coelho, iniciou-se um tumulto que vai ser investigado”, disse.
Logo na saída do ato, policiais do pelotão de choque chegaram a se perfilar na Praça do Derby. Pouco tempo depois, foram desmobilizados e entraram em dois pequenos ônibus da Polícia Militar.
Dois homens que não participavam do protesto correm o risco de perderem a visão de um olho após serem atingidos por tiros de bala de borracha disparados por policiais do pelotão de choque. Eles estão hospitalizados com quadro de saúde estável.
A vereadora Liana Cirne (PT) foi atacada com spray de pimenta após se identificar como parlamentar. Ela foi recebida pelo governador Paulo Câmara (PSB) na tarde desta segunda.
Nos bastidores, há rumores de que a violenta ação policial pode ter sido insuflada por um sentimento bolsonarista da tropa.
Nas redes sociais, perfis não oficiais de batalhões da Polícia Militar comemoraram a ação.
Em vídeo publicado em suas redes sociais na tarde do sábado, Câmara informou que determinou a imediata apuração de responsabilidades.
Segundo o governador, a corregedoria da Secretaria de Defesa Social instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além de quatro policiais envolvidos diretamente na agressão à vereadora Liana, foram afastados de suas funções.
Os nomes não foram divulgados. O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, e o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, Vanildo Neves de Albuquerque, não se pronunciaram sobre o episódio. Os dois seguem prestigiados pelo governador e permanecem no cargo.
O governo identificou o policial que disparou um tiro de bala de borracha no olho do adesivador Daniel Campelo da Silva, 51.
Ainda não foi identificado o policial que disparou contra o arrumador Jonas Correia de França, 29. Ambos tiveram lesões permanentes –Daniel, no olho esquerdo, e Jonas, no direito.
Em uma rede social logo após o ataque, a vice-governadora Luciana Santos (PC do B) afirmou que a ação policial não foi autorizada por Câmara.
“O governador Paulo Câmara tem se pautado pela democracia, pelo diálogo […] Nós repudiamos esse tipo de atitude e vamos tirar as consequências do acontecido”, escreveu ela.
Na última sexta-feira (28), o Ministério Público de Pernambuco havia emitido uma recomendação de suspensão dos atos para evitar a disseminação do novo coronavírus. A Promotoria expediu recomendações semelhantes contra aglomerações em manifestações de apoio a Bolsonaro.