sexta-feira, 17 maio 2024
OPINIÃO

Fugir, um ato de coragem

Por André Luís Pereira, teólogo e psicanalista
Por
André Luís Pereira
Foto: Arquivo Pessoal

“Elias teve medo e fugiu para salvar a vida.” (1 Reis, 19:3)

Estranho este tema, não é mesmo? Especialmente quando vem de alguém que gosta de escrever sobre enfrentamento. 

Porém, até mesmo quando eu me proponho a falar sobre fuga, o faço na perspectiva do enfrentamento, uma vez que, em determinadas situações, especialmente quando nossa honra e nossa vida estão em jogo, fugir é um ato de enfrentamento. 

Sim, na decisão da fuga há dois grandes adversários que temos de enfrentar: 1) a opinião dos outros; e, 2) a gente mesmo. 

Ambos são adversários implacáveis e cruéis. Estão sempre a espreita, aguardando uma falha nossa para se manifestarem majestosamente e, assim, nos envergonhar. 

Porém, quando optamos pela fuga, significa que vencemos, possivelmente, nossos maiores opositores. 

O primeiro opositor, muito embora cruel, é menos intenso em seus ataques do que o segundo opositor, pois este nos conhece profundamente e, por isso, sabe muito bem onde, como e quando, nos derrubar. Este é impiedoso e mais preciso do que o outro.

Portanto, enfrentá-los requer muita coragem, resiliência, sabedoria e suporte terapêutico. 

Elias, ao reconhecer seu medo, foge para proteger sua vida. Ora, ele era profeta do Senhor, como poderia imaginar ter de passar por uma situação tão constrangedora? Mas ele passou. E ao passar, decide viver mesmo que para isso tivesse de fugir dos seus pares, isolando-se do mundo. 
   
E é neste ato, na fuga, que ele demonstra sua força. É nesse ato que ele, então, demonstra sua coragem. Ele venceu a opinião dos outros, ele venceu a si próprio quando atropelou a vergonha e a impressão de covardia.     Como pontuou o Apóstolo Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte, pois o poder de aperfeiçoa na fraqueza”. 

Então, não tenha medo de ter medo; não se envergonhe quando houver necessidade de fugir, sair de cena. O próprio Jesus fugiu quando premeditaram matá-lo antes do tempo determinado. 
   
Como eu disse: fugir, em determinadas situações, é um ato de coragem. Portanto, seja sábio, escolhas as batalhas que irá enfrentar e/ou o momento no qual vai enfrentá-las. Quando entender que não é a hora, ou quando perceber que não está preparado, fuja, refugie-se, fortaleça-se, elabore, enfim, se prepare melhor. 

A fuga pode, em determinadas situações, ser um passo atrás para que, no momento certo, você caminhe com muito mais tranquilidade e experiência.

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