quarta-feira, 27 novembro 2024

Aluno do Mackenzie usa suástica para protestar contra vacinas e gera revolta na universidade

  Instituição afirma que abriu um processo disciplinar para apurar o caso e que garantirá o amplo direito de defesa

Mônica Bergamo

Folhapress

Um aluno do curso de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, usou o símbolo nazista da suástica durante uma videochamada como protesto antivacina. O episódio ocorreu na noite desta quarta-feira (15), enquanto era ministrada a aula de Laboratório de Direito Público.

A imagem trazia uma suástica formada por quatro seringas, em alusão à vacinação. “Nós servidores públicos fomos obrigados a tomar vacina nessa semana”, disse o aluno, por escrito, ao seu confrontado por colegas e pelo professor. “Estou sendo vítima do nazismo nesse exato momento. Esse é o meu protesto”, afirmou ainda.

O aluno se identificou apenas como “Rafael” — o que levou seus colegas a pensarem, inicialmente, que se tratava de um invasor. “Eu sou aluno, professor”, rebateu. “Tem um problema aqui relacionado à imagem que você está usando. A imagem da suástica”, afirmou o professor Helcio Dallari, que ministrava a aula.

Em seguida, o aluno afirmou se tratar de uma “suástica de seringas”, ao que o professor respondeu: “É, mas o símbolo da suástica não é um símbolo aceitável. Seria melhor você alterar.”

“Não vou nem entrar na discussão, o porquê que você está usando isso aí, mas enfim. O símbolo da suástica não tem respaldo”, seguiu Dallari. “Se eu tivesse reparado antes, já teria até mencionado. Não sei quem deu o alerta aí, eu agradeço. É uma questão de trocar essa imagem. Já está identificado, é aluno, mas enfim, não dá para usar esse símbolo, não.”

O episódio foi registrado em vídeo e em imagens e gerou comoção na comunidade acadêmica. Os alunos do décimo semestre do curso de direito, que assistiam à aula, pedem a suspensão do colega e dizem ter acionado o Ministério Público. “Nos sentimos profundamente ofendidos, principalmente diante do atual cenário de instabilidade política”, afirma a turma em abaixo-assinado.

O Centro Acadêmico João Mendes Jr., entidade que representa os alunos de direito do Mackenzie, também se manifestou. “Em um país que se aproxima de 600 mil mortos vítimas da Covid-19 e que tem como única medida efetiva de contenção da pandemia a vacinação, a associação da vacina à suástica nazista é inadmissível”, afirma em nota.

No chat, o aluno explica que se considerou vítima de nazismo porque foi obrigado a se vacinar contra covid-19 por ser funcionário público – Reprodução

“O Centro Acadêmico João Mendes Júnior repudia veementemente toda e qualquer forma de racismo, sobretudo no curso de um período inegavelmente delicado da história nacional, com constantes ameaças democráticas e proliferação massiva de discursos de ódio, e sobretudo na semana que marca uma das datas mais importantes e sagradas para o judaísmo: o Yom Kippur”, segue.

Procurada, a Universidade Presbiteriana Mackenzie diz que foi aberto um processo disciplinar de apuração do caso “de maneira completa e exemplar, garantindo também o amplo direito de defesa”. “A partir dos resultados da averiguação, decidiremos as atitudes cabíveis, de acordo com o Código de Ética e regulamentos da UPM”, diz a instituição em nota.

“A Universidade Presbiteriana Mackenzie repudia fortemente toda atitude de discriminação, bem como não tolera protestos que ofendam pessoas ou grupos sociais, sob quaisquer circunstâncias”, segue.

“Há 150 anos, o Mackenzie tem se identificado diante da população brasileira como instituição confessional cristã reformada, que defende o respeito entre todos os cidadãos, sem qualquer distinção, lutando pela convivência harmoniosa na sociedade, baseada na verdade, na justiça e no amor ao próximo”, diz ainda.

O aluno não foi localizado. Em dezembro de 2018, o Mackenzie expulsou o estudante Pedro Bellitani Baleotti depois da repercussão de vídeo em que ele aparecia dizendo “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer!”. Os insultos eram em referência a duas pessoas negras em uma moto no trânsito de São Paulo.

Em vídeo gravado por ele mesmo, o jovem dizia que estava indo votar “ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. Na parte final da gravação, ele filmou duas pessoas negras em uma moto e afirmou: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”, numa referência ao então candidato à Presidência Jair Bolsonaro.

Depois que a gravação viralizou, o jovem foi identificado por colegas da universidade e virou alvo de protestos. Mais de mil alunos se reuniram nos períodos da manhã e da noite para cobrar providências e a punição do universitário. Ele também foi demitido do escritório em que atuava como estagiário.

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