Para especialistas, é necessário o retorno de medidas mais restritivas
Atualmente, a delta domina 37% das amostras de covid-19 analisadas no Brasil, e a variante gamma, 62%, segundo a Gisaid, plataforma que monitora o avanço das variantes em todo o mundo. No Rio, a proporção é de 48% para a delta e 36% para a gamma. A delta já está presente em 76% dos 92 municípios do estado.
Em linha com o que já acontece no Rio, levantamento do Info Tracker, sistema de monitoramento da pandemia das universidades paulistas USP e Unesp, prevê que a delta possa responder por um aumento de casos em São Paulo a partir de setembro.
Gestores repetem erros
Ao analisarem o quadro do Rio — cuja capital foi definida como “epicentro” da delta e o governo estadual já fala em um “possível enfrentamento de nova onda de contágio” — infectologistas veem semelhanças com os momentos que antecederam as primeira e segunda ondas no país.
As semelhanças não dizem respeito somente ao agravamento de índices, mas à postura adotada por gestores públicos. “A pandemia precisa de gestão constante. Não é só abrir leito. Os dados caírem uma vez não significa que não possam subir novamente”, disse Nicolelis.
O infectologista Renato Kfouri afirma que as previsões de alta de casos e mortes devem se confirmar em nível nacional, mas que não é possível definir em qual proporção.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações também critica anúncios de reabertura plena. “O momento epidemiológico exige cautela, independentemente da delta. A gente já tinha problemas antes da delta. Com 30 mil ou 40 mil casos por dia, não há motivo para comemorar.”
Embora a média diária de mortes no Rio mostre queda e o índice nacional esteja abaixo dos mil óbitos, Nicolelis destaca que esses indicadores criam uma falsa ilusão de que está “tudo bem”. “Só porque você saiu do nível dez do inferno e está no nível oito, não significa que você esteja bem.”
Tanto para reverter a delta no Rio quanto para evitar o avanço da variante em outros estados brasileiros, os especialistas defendem esquema vacinal completo para ao menos 70% da população e, enquanto isso, restrições de circulação para quebrar a cadeia de transmissão.
Rio vê idosos de volta a UTIs e pico de casos
“Tudo que vemos no Rio mostra que o risco é real de ter uma outra explosão no Brasil. Medidas de restrição deveriam ser retomadas mais de um mês atrás, para evitar nova subida”, diz Nicolelis.
O estado do Rio começou a registrar queda nas internações de pessoas com mais de 60 anos a partir de abril, quando 896 idosos estavam em UTIs da rede pública estadual para tratar a covid-19.
A partir de então, os números caíram gradativamente por 11 semanas até que voltaram a subir entre o final de junho e início de julho. De acordo com a SES (Secretaria de Estado de Saúde), foi a partir desse período que a delta passou a dominar as amostras coletadas no estado.
Um estudo da Fiocruz divulgado pela TV Globo mostrou que pela primeira vez desde fevereiro o número de mortes por covid cresceu entre pessoas de 60 anos ou mais na capital. Também foram registradas 175 mortes de pessoas com 80 anos ou mais, segundo estimativa da última semana epidemiológica, maior patamar desde abril.
Agosto também registrou a terceira semana do ano com mais casos confirmados (27 mil) no estado. Na terça-feira (17), a taxa total de ocupação de UTIs para covid no estado era de 70% e ao menos sete estados não tinham mais leitos do tipo disponíveis.
Os dados acenderam um alerta no governo estadual, que articula a abertura de novos leitos para evitar falta de atendimento.
Perfil de internados no Rio
Na capital fluminense, julho registrou um aumento na proporção de pessoas idosas internadas. Em fevereiro, a proporção de cariocas com mais de 80 anos internados para tratar a doença era de 10,7%. O índice ficou em torno de 7% em abril e maio, voltando a crescer (8,7%) em junho e aumentando mais de 4 pontos percentuais em um mês, alcançando 13% em julho.
A internação de idosos entre 70 e 79 anos seguiu a mesma tendência. A faixa etária com mais internados em julho (último com dados disponíveis) era a de pessoas de 40 a 59 anos (33,6%) — o índice caiu 12 pontos percentuais em relação a junho.