quarta-feira, 24 abril 2024

Executivo diz à CPI que empresa que lucrou com kit covid patrocinou médicos pró-governo em anúncios

Jailton Batista presta depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (11)  

Jailton Batista, da Vitamedic, que registrou aumento de 1.230% na venda de ivermectina em 2020 – Jefferson Rudy/Agência Senado

A farmacêutica Vitamedic, que informou à CPI da Covid ter aumentado seus lucros com a venda de medicamentos do chamado kit covid durante a pandemia, patrocinou a publicação em jornais de um “manifesto” do grupo “Médicos Pela Vida”, composto por profissionais de saúde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alinhados ideologicamente com o governo.

A informação foi revelada pelo executivo Jailton Batista, designado pela Vitamedic para depor nesta quarta-feira (11) em audiência na CPI, no Senado. A empresa entrou na mira do colegiado depois de confirmar, por meio de documentos, que a venda de caixas de ivermectina (um dos remédios do kit covid) cresceu 1.230% em 2020 na comparação com o ano anterior.

O Médicos pela Vida ganhou projeção entre os bolsonaristas depois de participar de uma audiência no Palácio do Planalto em 8 de setembro do ano passado. Uma das linhas de investigação da CPI da Covid indica que o grupo atuou informalmente, por intermédio do deputado Osmar Terra (MDB-RS), em assessoramento eventual ao chamado “gabinete paralelo”.

De acordo com a testemunha, a Vitamedic foi procurada pelos médicos entusiastas dos mesmos medicamentos que, mesmo sem eficácia comprovada no tratamento do coronavírus, são incentivados por Bolsonaro e outros governistas (a exemplo da cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outros).

Custear publicação

O objetivo do contato teria sido para custear a publicação de um “manifesto” em defesa do kit covid. “Eles [Médicos pela Vida] pediram o patrocínio e a Vitamedic assim o fez”, afirmou Batista ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O Médicos pela Vida ganhou projeção entre os bolsonaristas depois de participar de uma audiência no Palácio do Planalto em 8 de setembro do ano passado – Marcos Corrêa/PR

O executivo destacou que a empresa não buscou informações acerca do “mérito” do dito “manifesto”, pressionado pelos membros do colegiado, disse que, independentemente da “opinião” dos médicos parceiros, já havia uma forte demanda de mercado. A publicação ocorreu em fevereiro deste ano.

“Não entramos no mérito do conteúdo”, observou o depoente. Em abril desse ano, o MPF (Ministério Público Federal) ajuizou uma ação civil pública no Rio Grande do Sul contra o grupo Médicos pela Vida em razão da publicação do manifesto. O órgão considerou à época que a veiculação do documento — cujo conteúdo contraria o resultado de estudos científicos — causava “dano potencial à saúde e dano moral coletivo”.

Entre outras medidas, a ação civil pede o pagamento de indenização no valor sugerido de R$ 10 milhões, como forma de reparação. O processo está em andamento.

O MPF também solicitou à Justiça que Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) seja condenada a adotar todas as providências de polícia administrativa em relação às peças publicitárias de autoria do Médicos pela Vida.

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