Em sua primeira manifestação após ter suas condenações anuladas e sido autorizado a disputar eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou nesta quarta-feira a gestão da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro, a que chamou de “desgoverno”, agradeceu o Supremo e disse que a “verdade prevaleceu”.
Em fala de improviso, antes de uma entrevista coletiva no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), Lula se disse agradecido ao ministro Edson Fachin (STF) por ele “ter cumprido o que a gente reivindicava desde 2016”. “Fiquei feliz com a verdade.”
Disse que suas amarguras estão superadas, afirmou estar tranquilo, mas que ainda quer a punição do ex-juiz Sergio Moro, responsável por sua condenação no caso do tríplex de Guarujá, que o deixou preso por 580 dias em Curitiba.
O petista voltou a chamar de “quadrilha” os procuradores da Lava Jato de Curitiba. “Moro sabia que a única forma de me pegar era pela Lava Jato. Eles tinham como obsessão, queriam criar um partido político. Mas a verdade prevaleceu.”
Disse que em 2018 se entregou à Polícia Federal contra a sua vontade e o fez porque tinha clareza sobre as inverdades sobre ele e provar a sua inocência em relação à Lava Jato. “Eu tinha tanta confiança e consciência que esse dia chegaria, e ele chegou.”
Na fala desta quarta, disse que foi vítima “da maior mentira da história jurídica em 500 anos de história do país” e afirmou que sua ex-mulher, Marisa Letícia, morreu diante da pressão que a família sofreu diante das acusações e investigações.
Lula também criticou a atuação da imprensa em geral, como a divulgação de delações premiadas da Lava Jato e também na cobertura jornalística sobre a revelação do conteúdo das mensagens da Lava Jato, material obtido em 2019 pelo The Intercept Brasil e divulgado por diferentes veículos de imprensa.
Lula atacou o que chamou de falta de prioridade do governo na compra de vacinas, mas sim na compra de armas, voltando a citar as milícias e suas suspeitas de ligações com a família Bolsonaro.
“A dor que eu sinto não é nada”, disse Lula, ao apontar as vítimas da pandemia e em uma crítica velada à gestão de Bolsonaro.
O ex-presidente citou as pessoas que passam fome diante da crise econômica, lembrou das vítimas e de seus parentes e enalteceu ainda o que chamou de heróis e heroínas do SUS, sucateado, segundo ele, pela atual gestão federal.
Em sua fala, o petista relembrou sua trajetória desde o sindicato ao início na vida política e enalteceu os que sempre acreditaram em sua inocência. Citou inclusive a carta que recebeu do papa Francisco.
Aliados de Lula no PT e em outros partidos foram convidados para a entrevista. Estava ao seu lado dele o ex-prefeito Fernando Haddad, lançado como pré-candidato do PT à Presidência há algumas semanas, além da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, entre outros. O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) também participou do evento.
ANULAÇÃO
Na última segunda-feira, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a anulação de todas as condenações proferidas contra o ex-presidente Lula pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato.
Lula, 75, tinha sido condenado em duas ações penais, por corrupção e lavagem de dinheiro, nos casos do tríplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP).
O ministro do STF entendeu que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela operação e determinou que os casos sejam reiniciados pela Justiça Federal do Distrito Federal.
Assim, as condenações que retiravam os direitos políticos de Lula não têm mais efeito e ele pode se candidatar nas próximas eleições, em 2022.
Lula estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, já que ambas as condenações pela Lava Jato haviam sido confirmadas em segunda instância.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) já decidiu recorrer da decisão.




