Doença endêmica grave preocupa especialistas e autoridades da saúde frente à queda da cobertura vacinal em todo o país
Por Redação
Caracterizada por uma inflamação das meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, a meningite é uma doença grave e contagiosa, causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, vírus e fungos, dentre outros, e agentes não infecciosos como, por exemplo, traumatismo.
Meningites de origem infecciosa, principalmente as causadas por bactérias e vírus, são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública, pela magnitude de sua ocorrência e potencial de produzir surtos. Devido à relavância do tema, a data de 24 de abril, marcada como o Dia Mundial de Combate à Meningite, visa destacar a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
Geralmente, a transmissão das infecções virais e bacterianas ocorre por meio do contato com saliva e secreções respiratórias de um indivíduo contaminado, havendo necessidade de contato íntimo, como entre residentes da mesma casa, pessoas que compartilham o mesmo dormitório, creches, escolas entre outros.
Conforme a pediatra Rafaela Bellotti, que atua no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, gerido pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, nos períodos mais frios, a incidência maior é de meningite bacteriana, devido às aglomerações em espaços fechados. Já a meningite viral é mais frequente no verão, já que o agente causador é transmitido por via oral.
A especialista explica que, em todos os casos, a única forma de realmente combater a doença, evitando surtos que colocam em risco toda a população, é com ações contra a desinformação, principal fator que levou ao atual cenário de baixa adesão à vacinação no país. “O perigo maior está com as crianças, que são as principais vítimas fatais de uma doença que poderia ser evitada com vacina”, reforça.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a queda da cobertura vacinal nos últimos anos no Brasil foi preocupante: a aplicação da vacina meningocócica C (conjugada) em menores de um ano de idade caiu, em apenas cinco anos, de 87,4% para apenas 47%. Ao mesmo tempo, somente no ano passado, foram confirmados aproximadamente 6 mil casos da doença, com mais de 700 óbitos em diversas regiões do país.
Cobertura vacinal
O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde fornece a vacina meningocócica C em três doses: aos 3 e 5 meses, com reforço aos 12 meses (que pode ser aplicado até antes dos 5 anos de idade). Já a vacina meningocócica ACWY (vacina conjugada quadrivalente) é realizada em dose única, para adolescentes entre 11 e 14 anos.
Dra. Rafaela ainda lembra que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza as demais imunizações fundamentais para evitar a contaminação da doença:
- Vacina BCG: em dose única ao nascer, a criança fica protegida contra a meningite tuberculosa.
- Vacina pentavalente: em três doses, aos 2, 4 e 6 meses, a imunização previne o bebê contra a meningite causada pela bactéria Haemophilus influenzae sorotipo b.
- Vacina pneumocócica 10: aplicada em três doses, aos 2 e 4 meses, com reforço aos 12 meses, esta vacina previne contra a meningite causada por 10 sorotipos da bactéria Streptococcus pneumoniae.
Atenção aos sintomas
A meningite se manifesta com sintomas como febre, intensa cefaleia, vômitos, rigidez na nuca, apatia e falta de apetite. “Quando a doença acomete recém-nascidos e bebês, pode ser mais difícil detectar esses sintomas, então os pais precisam ficar atentos caso a criança se mostre irritadiça, menos responsiva a estímulos, aparecimento de abaulamento da fontanela (percebida como um inchaço na moleira), tenha convulsões, demonstre dificuldade para comer e apresente vômitos”, frisa a pediatra.
Em caso de qualquer suspeita da doença, a orientação é procurar um médico pois, devido a sua gravidade, torna-se fundamental o rápido diagnóstico e início do tratamento com antibiótico venoso.
A médica salienta que o paciente com meningite requer internação imediata para evitar o agravamento. “Sobretudo nos casos mais graves, como o da meningite meningocócica, a rápida intervenção médica pode evitar que a doença evolua para o coma e, até mesmo, para o óbito”, alerta.
Dra. Rafaela destaca, ainda, que, além da vacina, os hábitos adquiridos durante a pandemia são muito importantes e eficazes para o controle tanto da transmissão da meningite como de qualquer outra doença viral ou bacteriana.
“Manter as mãos higienizadas e usar máscaras diante de sintomas de infecção, principalmente em ambientes fechados, podem salvar vidas”, finaliza.