sexta-feira, 26 abril 2024

Cresce o número de pessoas que desistiram de procurar emprego

Simone e Weslley são de gerações diferentes, mas ambos enfrentam a mesma situação em Americana: o desemprego. Enquanto Simone sonha em trabalhar novamente, mas já não procura trabalho, o que a inclui na categoria de “desalentados” pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Weslley tem a dura missão de conquistar o primeiro registro profissional com o agravante de nunca ter tido nenhuma experiência no mercado.

No Brasil, casos como o de Simone representaram 4,833 milhões de brasileiros em todo país, crescimento de 838 mil pessoas em relação ao mesmo período do ano passado. Somente na RMC (Região Metropolitana de Campinas), nos últimos 12 meses, 342.369 pessoas perderam o trabalho em vagas formais, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), vinculado ao Ministério do Trabalho.

Apesar de terem sido contratadas 385.144 pessoas no mesmo período na região, o que resulta em um saldo positivo de 42.775 vagas, esse número ainda não é suficiente para resolver os problemas de Simone e Weslley.
O último trabalho com carteira assinada de Simone foi em 2016. De lá para cá, se não fosse a ajuda dos pais, ela não sabe como teria sobrevivido. Com 35 anos, Simone Crevelari ressalta que a falta de motivação e de perspectiva foram despertadas após o envio de centenas de currículos e também da entrega de porta em porta. “Uns falam que é melhor entregar pessoalmente porque os empregadores têm a oportunidade de ver a cara do candidato. Outros já orientam para enviar somente por internet. Nos últimos anos fiz as duas coisas e não tive retorno. Isso acabou me desanimando”, diz.
Apesar de triste com sua situação, ela garante que se surgir uma oportunidade de trabalho irá agarrá-la, literalmente, com “unhas e dentes”. Dentre os seus sonhos, estão o de trabalhar no ramo de pizzaria e abrir seu próprio negócio, pois tem experiência na área e é apaixonada por esse segmento. Além disso, pretende retomar o curso de radiologia- interrompido por falta de condições financeiras. “É a triste a realidade que vivemos hoje no país. Somos potencialmente ativos, queremos trabalhar, mas não nos dão oportunidade”, diz.
PRIMEIRO EMPREGO
Assim como Simone, o jovem Weslley Bruschi, de 18 anos, atravessa um momento de incertezas quanto ao futuro profissional. Sonha em retomar os estudos e iniciar uma faculdade – está em dúvida entre os cursos de educação física e computação -, mas a falta de um trabalho estável o impossibilita de seguir adiante.
Natural de Conchas, interior de São Paulo, Bruschi mudou para Americana há quase dois meses, atraído pelo sonho do primeiro emprego. “Acompanho com tristeza a situação do nosso país e vejo tanta gente desempregada. Daí me pergunto qual empresa vai abrir as portas para quem nunca trabalhou? Minha carteira de trabalho ainda está em branco, mas quero muito preenchê-la”. justifica.
Bruschi conta que diariamente tem percorrido diferentes pontos da cidade e deixado currículos, mas fica apreensivo quando as pessoas olham para seu currículo e veem que ele nunca trabalhou. “Fico numa situação desconfortável, pois saí da minha cidade em busca de uma vida diferente, mas os empregadores precisam dar também oportunidade para que a gente possa entrar no mercado de trabalho”.
CENÁRIO
Segundo o consultor em negócios e professor da IBE- FGV, Alcidney Sentalin, o cenário atual para quem figura na categoria dos desalentados ou para quem busca o primeiro emprego não tem sido nada animador. Ele diz não acreditar em “passe de mágica”, mas crê numa melhoria gradativa dessa situação nos próximos meses.
Sentalin aponta que o “mundo perfeito”, seria aquele no qual as pessoas têm um trabalho, recebem uma remuneração adequada às suas funções, geram consumo e a economia, consequentemente, é aquecida. No entanto, ele explica que, hoje, o que tem acontecido é uma inversão de valores, ou seja, diante da crise, muitos profissionais, para não perderem seus trabalhos, aceitam a redução de seus salários.
“Com isso, a contratação de novas pessoas ou a recolocação de funcionários no mercado fica estagnada. Isso é péssimo para a nossa economia”. Outro fator preocupante em sua opinião refere-se à baixo auto-estima destas pessoas que fica comprometida e que precisa ser trabalhada apesar destas adversidades.
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