quinta-feira, 9 maio 2024

Movimentos culturais resgatam memória da comunidade negra

“A participação do povo negro foi essencial para a formação da cidade de Americana”, diz Cláudia Monteiro, representante da Unegro 

O ano é 1875. Americana é fundada oficialmente. Nesta época, o Brasil vivia sob um regime imperial e Dom Pedro II governava o país. Anteriormente a este período, a cidade começava a surgir na região de Salto Grande, no pós-represa, ao redor do plantio de cana-de-açúcar, como conta Cláudia Monteiro, representante de Unegro (União de Negros pela Igualdade) em Americana.

A cultura e sociedade americanense atuais têm marcas deixadas por este período, como pontua Carol Gomes, do Maracatu. Em celebração ao aniversário de Americana, o TODODIA ouviu as líderes de movimentos sociais e culturais, que falaram sobre a relevância de seus trabalhos desenvolvidos no município.

A Unegro é uma entidade nacional, fundada na Bahia em 1988 e trazida para Americana em 2011, como explica a historiadora Cláudia Monteiro. Entretanto, a militância pela igualdade da população negra antecede a entidade, com a Comissão de Promoção de Igualdade Racial de Americana, organização que defendia direitos das pessoas negras já em 2008.

Atualmente, a Unegro promove atividades como a pauta de políticas públicas para a população afrodescendente, principalmente nas áreas da Saúde, Educação, Segurança Pública, Habitação, de acordo com a historiadora.

“A participação do povo negro foi essencial para a formação da cidade de Americana. Vamos comemorar agora o aniversário do município, porém essa data é oficial, essa cidade começa muito antes. A gente tem um marco, que é a região de Salto Grande, que fica no pós-represa, ali a gente fala que nasceu a história de Americana, sobretudo com a população negra que construiu o solar, que já data mais de 200 anos, que é o Casarão de Salto Grande”, conta.

A história da população negra em Americana é contada em detalhes no livro Identidade e Memória, lançado neste ano pela Unegro. A obra traz um estudo de caso do engenho e fazenda Salto Grande.

Atualmente, a Unegro desenvolve ações como o debate das políticas públicas para a população, as mobilizações na cidade, atividades de conscientização e aprendizado, como a mostra cultural afro-brasileira, em que escolas que trabalharam esta temática levam seus alunos para apresentações no Teatro Municipal.

“Essa mostra cultural vem com esse objetivo de trazer esses alunos, adolescentes de escola pública, para o teatro municipal para apresentar o que eles fizeram ao longo do ano sobre a temática étnico racial. Isso apoiado na lei que determina a obrigatoriedade de ensinamento da cultura afro-brasileira nas unidades de ensino”, disse.

A entidade também promove discussões sobre religiões de matriz africana. “A Unegro, ao longo desses anos, vem fazendo essas ações porque elas resultam na construção de uma cultura outra que é pouco valorizada na cidade. A gente tem empreendido debates sobre religiosidade, que sofre tanta discriminação ainda na realidade, então tudo isso contribui para a construção de uma outra sociedade muito mais diversa”, apontou.

Expressão cultural – Americana também conta com a expressão cultural do Maracatu, movimento que envolve música, dança e história. O movimento tem origem afro-brasileira e surgiu em Pernambuco no século XVIII. Em Americana, o Maracatu existe há cerca de oito anos, com início em 2014.

No município, o grupo de Maracatu Nação “Estação Quilombo” se reúne quinzenalmente na Estação Cultura de Americana, na área central. O Nação é um dos tipos de Maracatu e também é conhecido como Maracatu de Baque Virado.

“O Estação, a passinhos pequenos, tem tentado abrir um espaço, aqui é totalmente gratuito, você não precisa saber tocar, não precisa ter um curso, aqui todo mundo ensina e todo mundo aprende. A gente sempre diz que tem várias realidades e idades aqui, realidades sociais e a gente tenta se unir se complementar dentro disso tudo”, disse Carol Gomes, representante do Estação Quilombo.

Carol fala que o Estação também realiza ações junto a entidades de outras religiões. “A gente também já desenvolveu algumas atividades lá no Zincão (favela) aqui em Americana, que é um bairro mais carente também, junto com a pastoral, então a gente anda também com essas outras religiões, a gente já tocou com pessoas de igreja católica, a gente sempre tenta circular nesses lugares, trabalhar a intolerância religiosa”, contou. 

(Foto: Divulgação)

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