Dos 46 milhões de testes anunciados pelo Ministério da Saúde para oferta no país, apenas 5,1 milhões já foram entregues, o equivalente a 11% do total.
O número inclui 1,6 milhões de testes que usam a técnica de RT-PCR, que verifica o material genético, e cerca de 3,5 milhões de testes rápidos, que verificam a presença de anticorpos, doados por empresas privadas.Os dados foram divulgados por técnicos da pasta nesta terça-feira (5).
Segundo o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, dos 46 milhões de testes, 24,6 milhões “já estão sendo adquiridos, ou foram uma parte já recebidos; ou seja, já estão pagos ou entregues”.
“Com os 24 milhões [de testes], testaremos 12% da população brasileira. É muito maior do que muitos países estão fazendo”, afirmou.
Ele não informou o cronograma de entrega e a previsão dos demais. A declaração ocorre em meio a críticas pela baixa oferta de testes no país, em geral restrito a casos graves.
“A produção e a entrega não são dos 46 milhões de testes ao mesmo tempo”, disse Oliveira. “Tem uma grade de distribuição planejada”.
Segundo o secretário, a previsão é que a Fiocruz entregue 3,6 milhões de testes até maio. Até setembro, o volume fornecido pela fundação deve chegar a 11 milhões.
Apesar da intenção de ampliar a testagem, o ministro da Saúde, Nelson Teich, já frisou que a oferta não será para todos. A previsão é que, além dos casos hoje indicados, seja feita a testagem de parte da população de modo a ter uma amostra da situação do país. As mudanças devem ser divulgadas nesta quarta (6).
De acordo com Oliveira, atualmente, laboratórios centrais analisam entre 100 e 150 amostras por dia cada um, um número considerado baixo. A pasta tem tentado ampliar o volume.
O atraso no diagnóstico é outro gargalo. Segundo o secretário, até domingo (3), 93 mil amostras aguardavam processamento.
Outro problema é a falta de informação sobre testes realizados na rede privada. “Nós ainda não temos os dados de todos os laboratórios da rede privada”, disse. “Sabemos que pelo menos as grandes redes de laboratórios tem mais de 100 mil exames realizados que não entraram no sistema, e não sei precisar, destes, quantos são positivos.”
Segundo ele, lei de 1975 prevê que é obrigação dos laboratórios informar esses dados. Ele reclama também do fato de que o Ministério da Saúde não tem controle sobre os resultados dos testes rápidos, ao contrário dos testes RT-PCR.
“Nós distribuímos os testes rápidos. Mas o dado de quem usou o teste, se deu negativo ou de quem usou o teste e deu positivo, não está chegando para o Ministério da Saúde”, diz. “Então não sei, daqueles 3 milhões de testes rápidos, quantas pessoas que estão confirmadas”.
Ele ressaltou que prefeituras e estados também adquiriram testes rápidos e que, com isso, o volume ofertado no país pode ser maior.
Outro problema está na indicação de uso dos testes. Em geral, especialistas têm alertado que o uso de testes rápidos tem alto risco de resultado falso-negativo.
A orientação é que sejam feitos apenas após o 8º dia de sintomas, e como ferramenta auxiliar de análise do caso por profissionais de saúde. Já os testes do tipo PCR são considerados mais precisos, embora demorem para análise.
Com o aval para oferta de testes rápidos em farmácias, dado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a pasta também deve exigir o registro dos resultados nestes locais.
“Vamos orientar as farmácias que o farmacêutico faça o teste e que o resultado seja registrado no sistema de vigilância epidemiológica”, disse.
Para Oliveira, o número total de testes previstos no país é bastante alto considerando que, no ano passado, diz, o país realizou 10 milhões de testes laboratoriais (incluindo todas as técnicas). “Estamos comprando 46 milhões só para uma doença”, disse.