O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, vai entrar com uma representação na PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Gilmar Mendes.
No sábado, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) disse que “o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável”, gerando grande contrariedade entre os militares. Mendes se referia às políticas do Ministério da Saúde, chefiado interinamente pelo general Eduardo Pazuello, no combate ao novo coronavírus.
Após uma série de conversas ao longo do domingo, Azevedo decidiu divulgar uma nota em tom bastante duro, co-assinada com os três comandantes das Forças Armadas. Antes, o Ministério havia apenas feito uma defesa de seu trabalho no combate à pandemia.
“Comentários dessa natureza, completamente afastados dos fatos, causam indignação. Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsável e sobretudo leviana. O ataque gratuito a instituições de Estado não fortalece a democracia”, diz o texto.
Procurado em Lisboa, onde passa o recesso do Judiciário, Gilmar Mendes não quis comentar a nota dos militares.
Sua fala causou irritação principalmente no Exército – Azevedo é um general de quatro estrelas da reserva. Após a queda do breve Nelson Teich, a Força está no comando do Ministério da Saúde há dois meses, na figura do general da ativa Pazuello.
O presidente Jair Bolsonaro já disse que ele só está lá de forma interina, mas a militarização dos principais cargos da pasta está em curso. Já são 28 os fardados no Ministério, metade deles da ativa.
A condução de Pazuello é alvo de críticas. O Ministério tem dado protagonismo à contestada hidroxicloroquina como medicamento a ser usado contra a Covid-19, e a mudança de critérios de divulgação de dados teve de ser interrompida por sugerir maquiagem de números.
A crítica vocalizada por Gilmar Mendes é corrente no Supremo. Como a corte decidiu que prefeitos e governadores teriam autonomia para lidar com a pandemia de acordo com realidades locais, Bolsonaro sempre que pode diz que o problema da pandemia não é totalmente de sua alçada.
Ministros do tribunal consideram as declarações do presidente como uma forma de atingir a credibilidade do Supremo, na esteira do conflito entre Poderes que chegou quase ao paroxismo em maio e junho – desde a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz e de operações contra rede de apoiadores, Bolsonaro recolheu-se e a crise arrefeceu.
CRISE
O incidente com a frase de Gilmar reacende a disputa institucional.
Aliados de Gilmar Mendes estão buscando acalmar os ânimos de lado a lado, até aqui sem sucesso. A nota da Defesa não deixa claro o que tentará imputar a Gilmar, mas sugere difamação ao ressaltar que genocídio é tipificado no Código Penal.
“Trata-se de um crime gravíssimo, tanto no âmbito nacional, como na justiça internacional, o que, naturalmente, é de pleno conhecimento de um jurista”, afirma o texto.
O problema está colocado. Um general próximo de Azevedo afirma que a presença dos comandantes das Forças na nota indica que um grau inédito na crise até aqui.