quarta-feira, 27 novembro 2024

Bolsonaro prega desobediência em ato golpista em SP; assista

Presidente diz que não respeitará “qualquer decisão” do ministro Alexandre de Moraes  

Manifestação a favor de Jair Bolsonaro tomou 11 quadras da Avenida Paulista – Captura de vídeo/Facebook

Em um desafio explícito ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou abertamente que não respeitará “qualquer decisão” do ministro Alexandre de Moraes, incitando apoiadores contra a Corte. A manifestação foi feita durante manifestação antidemocrática realizada em São Paulo, que ocupou 11 quadras da Avenida Paulista.

Bolsonaro xingou o magistrado de “canalha” e pediu sua saída diante de milhares de apoiadores. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”, afirmou o presidente.

Moraes é o responsável por inquéritos que apuram o financiamento e a organização dos atos antidemocráticos realizados por aliados do presidente neste 7 de setembro, feriado da Independência. O magistrado também conduz a investigação que apura ameaças e notícias falsas que miram os integrantes do STF.

Bolsonaro não só compareceu aos atos de Brasília e São Paulo, como convocou a presença de apoiadores nos últimos dias em diversas declarações públicas. As manifestações a favor do presidente ocorreram em 24 capitais, enquanto as contra foram realizadas em 19.

Veja o discurso do presidente Bolsonaro a partir de 6:46, que foi transmitido por sua página no Facebook:

“Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair”, gritou Bolsonaro aos apoiadores. “Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!” No discurso em Brasília, ele já havia criticado o STF e o presidente da Corte, Luiz Fux.

‘Nunca serei preso’

O presidente repetiu que tem três alternativas para seu futuro: “preso, morto ou com vitória.” “Dizer aos canalhas que nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós”, afirmou o presidente.

Bolsonaro voltou a criticar o processo eleitoral brasileiro, afirmando que “não é confiável”. O presidente é defensor da adoção de um comprovante de voto impresso, que foi recentemente derrotado no Congresso.

Apesar de o presidente ter repetido que quer o “voto auditável” e com “contagem pública dos votos”, o resultado das eleições brasileiras já passa por auditoria. A contagem é feita de modo automático pelas urnas eletrônicas, e a soma dos votos é realizada por um supercomputador do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Todo o processo pode ser acompanhado por partidos políticos, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), entre outras entidades. Bolsonaro voltou a distorcer a decisão do corregedor-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ministro Luís Felipe Salomão, que mandou plataformas digitais suspenderem a monetização de canais que disseminam informações falsas sobre as eleições no Brasil.

Apesar de a decisão ter mirado perfis que produzem conteúdo falso, Bolsonaro tratou os alvos da medida apenas como críticos do sistema de votação. Com o hino nacional ao fundo, Bolsonaro foi recebido com fogos de artifício e gritos de “o capitão chegou”.

O presidente falou a apoiadores em um carro de som na região do Parque Trianon e do Masp. No meio da tarde, o ato ocupava ao menos 11 quadras — entre a Rua Haddock Lobo e a Avenida Brigadeiro Luís Antônio — e é difícil circular.

“Se eles acharam que iam nos intimidar, o tiro saiu pela culatra. Quem tem que sair do país são esses ratos, não são nós não”, afirmou pouco Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Em sua fala, ele elogiou a Medida Provisória assinada pelo pai ontem, que altera o Marco Civil da Internet para dificultar a remoção de conteúdos falsos das plataformas de rede social: “Onde é que está escrito na lei o crime de fake news, p***a? Que p***a de democracia é essa em que estamos vivendo?”

Flávio também criticou a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-SP), preso em fevereiro deste ano após divulgar um vídeo com ataques a ministros da Corte. O ex-ministro Ricardo Salles foi chamado para falar como “o sempre ministro”. “Fizemos o impeachment da Dilma [Rousseff], elegemos Bolsonaro e vamos mudar o Brasil”, disse, afirmando que, antes de ocupar o cargo, já estava nas ruas “defendendo o certo”.

A pauta da manifestação é praticamente uníssona: destituição do STF (Supremo Tribunal Federal), voto impresso — chamado pelos manifestantes de voto auditável — e intervenção militar para permitir que as duas primeiras pautas sejam atingidas.

Diversos cartazes estão em inglês. Segundo manifestantes, é uma estratégia para mostrar ao mundo que o presidente do Brasil tem respaldo popular.

Há pessoas de todas as idades, de crianças a idosos. A reportagem viu pouca presença da Polícia Militar, sobretudo em pequenos grupos nas ruas que dão acesso à Avenida Paulista. Ao contrário do que havia sido prometido pela Secretaria de Segurança Pública, a ampla maioria dos manifestantes não está sendo revistada.

Manifestantes tentam conversar com os grupos de policiais. Há aplausos sempre que ocorre um sobrevoo de helicóptero das forças de segurança.

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também