Por falta de acordo, os deputados decidiram nesta quarta-feira (9) adiar a votação do projeto de resolução que, se aprovado, retomaria o funcionamento do Conselho de Ética, em decisão que poderia acelerar a análise de ação sobre a cassação da deputada Flordelis (PSD-RJ).
A parlamentar é apontada pela Polícia Civil do Rio como a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, 42.
Além do conselho, o projeto também autorizaria a reabertura das comissões de CCJ (Constituição e Justiça), CFT (Finanças e Tributação) e da Fiscalização Financeira e Controle.
Alguns fatores são apontados como entraves para a votação do projeto que reabre os colegiados. O primeiro deles é uma avaliação de que o texto dá poderes “extraordinários” aos presidentes das comissões.
Um dos dispositivos diz que os prazos para atos praticados nos colegiados durante o funcionamento das sessões remotas serão definidos pelos presidentes de cada um deles e contados em dias úteis, exceto no caso do Conselho de Ética, que manteria os processos regidos pela legislação. Líderes partidários estariam tentando chegar a um acordo sobre esse ponto.
Além disso, há um receio, por parte da oposição, em torno do dispositivo que permite ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após ouvir os líderes partidários, autorizar o funcionamento de outras comissões permanentes ou temporárias.
Com isso, após uma eventual aprovação na CCJ, seria possível instalar a comissão especial para debater o mérito da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma administrativa. A oposição considera o texto controverso e tenta ganhar tempo para discutir o que avaliam ser uma “reforma polêmica”.
O terceiro fator que pesa é o temor de alguns parlamentares com processos em análise no Conselho de Ética. Após a apreciação da representação contra Flordelis, os membros do colegiados voltariam a avaliar as demais ações abertas -que envolvem deputados bolsonaristas, entre eles Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.
Mais cedo, Flordelis descumpriu um acordo com o corregedor da Câmara, deputado Paulo Bengtson (PTB-BA), e desistiu de ir até a Casa para assinar a notificação da denúncia.
Com isso, Bengtson foi entregar a notificação para a deputada no apartamento funcional que a parlamentar utiliza em Brasília.
A partir disso, Flordelis tem cinco dias úteis para apresentar a defesa escrita na Corregedoria, que teria um prazo máximo de 45 dias para enviar à Mesa Diretora o parecer sobre o caso.
Bengtson, no entanto, estima que o parecer deva estar pronto em até 15 dias. “Ela vai ter direito a ser ouvida na comissão de ética, no plenário, então é o amplo direito de defesa que a deputada terá”, afirmou.
O corregedor justificou o fato de a representação contra Flordelis ser apreciada antes de outros casos.
“Isso já é regimental, isso pode acontecer, principalmente um processo desse, que trouxe comoção nacional”, afirmou. “É algo que todos estão acompanhando pela imprensa, todos estão atentos. Então a Casa precisa dar essa resposta rápida.”
O conselho é responsável por dar andamento ou arquivar o processo de cassação. Se o pedido for aprovado, a decisão de encerrar o mandato da deputada caberá ao plenário -são necessários ao menos 257 votos favoráveis ao parecer do conselho de ética.
O pastor Anderson foi assassinado com mais de 30 tiros dentro da própria casa, em Niterói, região metropolitana do Rio. De acordo com investigações da Polícia Civil, o plano para matar o pastor começou em maio de 2018, com um envenenamento em doses por arsênico.
Segundo o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público, quando Flordelis convence um dos filhos sobre o plano de matar o pastor, em uma troca de mensagens, ela fala sobre o crime. “
‘Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus’. E então resolve matar. Ou seja, nessa lógica torta, o assassinato escandalizaria menos”, diz Pereira.
De acordo com o promotor, a associação criminosa entre os familiares começou com a tentativa de matar o pastor por envenenamento, depois por arma de fogo. Após o crime, houve a tentativa do grupo de fraudar as investigações, com uso de contrainformações.
Flordelis arquitetou todo plano da morte, financiou a compra da arma, convenceu pessoas a realizar o crime, avisou sobre a chegada da vítima ao local e ainda tentou ocultar provas, de acordo com a investigação.
A deputada foi indiciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada. Para a polícia, a motivação do crime foi a insatisfação com a maneira que o pastor Anderson administrava a vida financeira da família.
Flordelis não foi presa por causa da imunidade parlamentar. Nesse caso, apenas os flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão.